A 1ª Exposição Histórica do Ciclismo é inaugurada amanhã revelando um Mundo quase desconhecido
A Federação Portuguesa de Ciclismo, que continua comemorando as «Bodas de Ouro» da fundação da U.V.P., de que é legítima sucessora, inaugura amanhã num salão que o Ateneu Comercial apresenta agora renovado, a I Exposição Histórica do Ciclismo. A iniciativa reflecte, de certo modo, o belo êxito alcançado, em 1938, pela Exposição Histórica do Futebol, promovido pelo nosso prezado colega «O Século». Como sucedeu com o certame do desporto mais popular, a exposição de agora vai servir também de documentário, especialmente iconográfico, da história do ciclismo, no transcurso largo de meio século. Pelo que a respectiva Comissão Organizadora já recebeu, é natural fazer-se uma ideia, do interesse que a nova realização da F.P.C. deve despertar, em recordação oportuna de nomes que foram gloriosos, e de datas que ficaram célebres no desporto de há cerca de 50 anos, mas sobretudo na evocação do papel preponderante que o ciclismo desempenhou em Portugal e, a seu favor, no estrangeiro, muitas vezes com a protecção valiosa do chefe do Estado e da família real. Alguns nomes e factos vão por certo constituir revelações inesperadas e provocarão, nos mais velhos, saudades por um tempo que foi de prestigio para o desporto e para o país, mostrando, no seu conjunto, como vários atletas e dirigentes marcaram posição de relevo num desporto que parecia fora das suas preferências.
Encontram-se, por exemplo, nessa situação os nomes de Alexandre Ferreira, mais conhecido entre nós, como antigo vereador do município lisbonense e propulsor entusiasta da obra magnífica que é a dos «Inválidos do Comércio», e de D. Sebastião Herédia, com um passado brilhantíssimo de esgrimista internacional e olímpico. Alexandre Ferreira, que passou também pelos corpos dirigentes do Lisboa Ginásio Clube, fez parte como ciclista de uma estafeta corrida de Braga a Lisboa, em Outubro de 1902, promovida pelo Grupo Velocipédico de Braga, de que era tesoureiro. E D. Sebastião Herédia foi dos melhores corredores do seu tempo, tendo brilhado em Portugal, na Espanha e em França. Ganhou provas, estabeleceu e bateu recordes — e chegou a ser apontado, em França, onde estudava, como possível representante daquele país nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 1898. Excelente patriota, não quis, porém naturalizar-se francês. Ilustramos esta crónica com outro nome glorioso do ciclismo lusitano — José Bento Pessoa. Campeão nacional, de pista e estrada, bateu um recorde do Mundo em pista e ganhou o primeiro campeonato de Espanha. Correu também no estrangeiro, e no Brasil, conquistando ali notáveis triunfos. O valor dos ciclistas nacionais tentou por vezes a fantasia de mestre Francisco Valença, sendo da sua autoria as duas caricaturas que inserimos. Aos nomes de D. Sebastião Herédia e José Bento Pessoa, podemos ainda juntar o de Manuel Ferreira, que teve a honra de ser professor de ciclismo de D. Amélia e de outras pessoas da família real, quando o ciclismo era desporto da elite. A Exposição de Ciclismo vai, pois, constituir uma revelação para muita gente. — M. O.
Nota: Texto integral «ipsis verbis» de um artigo da autoria de Mário de Oliveira, aquando da inauguração da primeira exposição histórica do ciclismo português, da iniciativa da Federação Portuguesa de Ciclismo (UVP-FPC), no âmbito das comemorações das «Bodas de Ouro» daquela entidade, em 1949.